Não basta verticalizar tijolos | Dr. Stephen Stefani

Dr. Stephen Stefani | 10 Aug 2023

Não basta verticalizar tijolos

 

Está bem claro para quem trabalha com regulação e gestão que os custos em terapias oncológicas tiveram um aumento de custo explosivo nos últimos anos. Uma população que vem envelhecendo (e sobrevivendo a várias doenças até então consideradas de altíssima letalidade) associado a medicamentos cujo custos aumentaram demais são ingredientes como nitro e glicerina. Se não manejados com cuidado, o resultado é desastroso.
Recentemente apresentamos em Boston no Congresso da International Society of Pharmaeoconomics and Outcome Research (ISPOR), e orgulhosamente fomos premiados como melhor trabalho entre 2000 de todo planeta, um exercício de impacto de custos de câncer de mama pela inclusão de novos remédios. Já descontada inflação, variação cambial e crescimento do PIB, o preço de um lançamento para manejo da doença ficou 175% mais caro do que há 10 anos (1). Infelizmente somente uma pequena fração dessas tecnologias se traduzem em efetivo ganho prognóstico, considerando pelo menos 3 meses de aumento de sobrevida global (critério objetivo proposto pela American Society of Clinical Oncoloy) (2).
É irrealista imaginar que se consiga reduzir essa curva ascendente de custos, fenômeno visto e debatido em todo planeta, mas se pode controlar crescimento de custos e, pelo menos, minimizar desperdícios.
Uma das formas de se fazer isso são tradicionalmente as análises prévias dos pedidos pelos especialistas, ferramenta já bem consolidada nas operadoras. Mas até essa evidente necessidade já tem sido questionada como insuficiente, por si só, para mitigar o problema (3). Verticalização por si só, tampouco, resolve o problema, inclusive cria muitas vezes um descompromisso do solicitante em priorizar opções com maior responsabilidade orçamentaria. Verticalização somente da área física (verticalizar o tijolo!) pode até viabilizar descontos, mas muitas vezes são descontos pequenos (as drogas mais caras não têm concorrentes) e que poderiam ter sido substituídos por outra linha terapêutica equivalente em comum acordo.
A melhor forma, mesmo que não seja complexo, é verticalizar a discussão técnica antes do preenchimento do pedido. São reuniões (com plataformas tradicionais) semanais para discussão de todos pedidos iniciais ou mudanças de terapias, onde se debate real impacto prognóstico com uma visão compartilhada mais crítica. Além de qualificar a assistência, minimiza judicialização e aproxima os atores.
Atuar em gestão em saúde nos obriga a manter o conhecimento médico em dia, mas também em antecipar movimentos do mercado e ser criativo e célere. O tema é pauta em todas as grandes reuniões globais. Auditoria Médica cada vez mais é uma especialidade, que lutou para ser reconhecida como Área de Atuação, e merece compromisso de todos nós em nos mantermos atentos para movimentos e inovações, não só médicas, como de gestão.

(1). Gonçalves V, Stefani SD. Critical Appraisal of Drug Pricing for Advanced Breast Cancer Medications Approvals in Brazil (2007 - 2022) and Comparison with Major National Economic Indicators. ISPOR Boston, 2023

(2) Schnipper LE, Davidson NE, Wollins DS, Blayney DW, Dicker AP, Ganz PA, Hoverman JR, Langdon R, Lyman GH, Meropol NJ, Mulvey T, Newcomer L, Peppercorn J, Polite B, Raghavan D, Rossi G, Saltz L, Schrag D, Smith TJ, Yu PP, Hudis CA, Vose JM, Schilsky RL. Updating the American Society of Clinical Oncology Value Framework: Revisions and Reflections in Response to Comments Received. J Clin Oncol. 2016 Aug 20;34(24):2925-34.

(3). Kyle M & Song Z. The Consequences and Future of Prior-Authorization Reform. N Engl J Med 2023; 389:291-293

 

Dr. Stephen Stefani é médico oncologista. Especialista em Auditoria Médica e Avaliação de Tecnologia em Saúde (ATS). É docente da Fundação Faculdade UNIMED e coordena o Núcleo de Avaliação de Tecnologias de Alto Custo (NATAC) da Unimed Central RS. Presta consultoria para dezenas de operadoras em todo país. É board da Americas Health Foundation e presidente do capítulo Brasil da ISPOR.

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